Para ter uma comunicação que faça sentido é necessário que você compreenda a outra pessoa (uma habilidade que você não sabe se tem). Mas essa compreensão não vem somente de uma conversa.
Ministro cursos de oratória desde 2001, ano em que iniciei a faculdade de Relações Públicas e aprendi a técnica de algo que para mim é muito orgânico: falar em público. Acredito que por volta de 2011, quase uma década depois e uma série de cursos ministrados, tive contato com uma frase de Rubem Alves que mudou a forma como eu passei a encarar a oratória: “Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória. Todo mundo quer aprender a falar. Ninguém quer aprender a ouvir”. A partir daí, incluí na primeira aula de meus cursos de oratória algumas pílulas de escutatória, que foram tomando corpo.
Para ter uma comunicação que faça sentido é necessário que você compreenda a outra pessoa (uma habilidade que você não sabe se tem). Mas essa compreensão não vem somente de uma conversa. É preciso administrar a informação que lhe é passada e, ao mesmo tempo, mediar os seus próprios pensamentos e emoções.
Competência social e capacidade de saber ouvir requerem interação. Requerem que você ouça e pergunte. Acredito que passamos por uma crise de nossa habilidade de conversar causada por uma epidemia de conversas sem sentido e superficiais. Como assim? As redes sociais produziram informações, na maioria das vezes compostas por imagens, que geram interações relacionadas ao que comemos ou ao quanto malhamos. Algumas pessoas são capazes de manter “conversas” somente usando figurinhas e memes! Mas não você! Você só usa seu celular para o extremamente necessário e tem interações presenciais excelentes com as pessoas. Pode ser que não haja muito o que melhorar, no seu caso. (Sim, eu estou sendo bastante irônica).
Uma conversa normal consiste em uma pessoa esperando a outra parar de falar sobre si mesma para que ela possa falar sobre si mesma. O cérebro pode processar palavras 4x mais rápido do que conseguimos dizê-las, logo, você tem tempo de sobra para pensar em outras coisas enquanto escuta. O problema é que, normalmente, usamos este tempo de forma errada. Ficamos entediados e começamos a divagar porque julgamos “já saber” o que a outra pessoa vai dizer.
Se alguém diz “estou com medo de não ir bem na minha apresentação” e você responde “fique tranquilo, você não tem o que temer, vai arrasar!”, sinto informar que você não escutou. Você simplesmente encorajou o outro para não ter que entender o problema carregado de emoções que acabou de ser expresso. Você foi SIMPÁTICO, mas não EMPÁTICO. A primeira lição da escutatória é ter (de propósito) uma preocupação real com o outro, respirar fundo, olhar o outro nos olhos e perguntar: o que está lhe preocupando
Raramente temos a oportunidade de falar sem sermos interrompidos. Pausar por alguns segundos após alguém dizer algo é outra regra da escutatória. Aguarde alguns segundos, olhando para a pessoa, para ver se ela ainda quer dizer mais alguma coisa, dê a chance do outro pensar um pouco mais. Pare de “sequestrar” constantemente a conversa tentando resolver o problema antes do outro terminar de apresentá-lo!
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